sábado, 19 de abril de 2008

PRESIDENTES EM PORTUGAL

Algumas diferenças óbvias

Os presidentes, em Portugal, são gente muito especial. Colocados na berlinda pelas suas posses, por indicação de alguém, por inteligência e mérito próprio ou por votação simples, a verdade é que ocupam o topo de qualquer coisa, da empresa, da agremiação, do clube, da instituição, da autarquia, da assembleia, dos tribunais, da própria República, sempre com o penacho correspondente ao cargo, mas nem sempre com o poder…

Por incrível que pareça, qualquer presidente de qualquer choldra de clube por aí, não passa muitas vezes de um borra-botas de terceira, mas tem mais poder que o Presidente da República! Há quem não acredite, mas é verdade.

O presidente da República, pode presidir, dar posse ao governo, promulgar as leis e dissolver a Assembleia, mas não pode legislar nem governar. É, no fundo, um atado que nem para ter um ordenado de jeito serve!

Um presidente de clube, por exemplo, pode passar à margem da assembleia, legislar, ordenar, comprar, vender, fazer pagar, admitir ou demitir a seu gosto, em suma, presidir, legislar, governar e acabar com tudo, se quiser, ganhando, além disso, um ordenadão! Tomara o Presidente da República, que não passa de um funcionariozinho ao pé dele!

O presidente de um grande clube é mais poderoso e mais rico que um rei ou um presidente…e provavelmente até terá maior penacho! Não tem guarda de honra de GNR, mas possui os guardas privados, as claques que são eficientes dentro do campo e berram muito mais alto que toda a tropa junta, rufam tambores, tocam cornetas e disparam very lights quando lhes apetece, que até acertam em gente.

Ainda há pouco tempo, um presidente de um clube muito conhecido vivia na maior, arrotando postas de pescada, deslocando-se em bólidos último modelo, habitando um palacete de luxo perto da Praia das Maçãs e possuindo um iate privado de milhões, para os seus passeios de fim-de-semana e férias com a família e amigalhaços. Que eu saiba, o nosso Presidente da República vive num andar com marquise, à Travessa do Possolo, ali mesmo ao lado do Cemitério dos Prazeres, e dá recepções às gentes importantes no Palácio emprestado de Belém, utilizando nas deslocações um Mercedes trivial que já vem dos antecessores e passará ao presidente que vier a seguir, se o governo estiver em apuros e não puder adiantar massas.

Além de tudo o mais, o Presidente da República tem que portar-se como o presidente de todos os portugueses, isto é, dos que votaram nele e daqueles que lhe fizeram o manguito! Se os primeiros são credores dos seus esforços e deveres, os segundos também, por dever de ofício. Mas deve custar muito!

Claro, custa muito ao Presidente da República, certamente, como homem, ter que apaparicar quem lhe chama nomes feios ali mesmo à esquina e quando lhe apetece, sem que lhe seja permitido retorquir, nem que seja com um simples gesto de desagrado. Nem pode mandar à fava quem o insultou! E quantas vezes o pagode o chama Silva, o manda à merda alto e bom som, com todas as letras!

O presidente de clube vai com a sua limusina a acompanhar a digressão da equipa, é recebido com todas as honras no camarote presidencial, dá entrevistas, oferece e recebe banquetes de homenagem a pontapés…preenche os noticiários dos jornais, dos rádios e das TVs, lidos, ouvidos e vistos por milhões de espectadores, sem necessidade de prévio aviso, como acontece com o pobre do Presidente da República, um prisioneiro do cargo que só vale pela faixa que ostenta em diagonal, nas grandes cerimónias…E qual é o gozo? Só a fotografia!

Mas o Presidente da República tem que ser, ainda assim, convenientemente resguardado. Há dias, na Ilha da Madeira, foi-lhe mesmo proibida a entrada na Assembleia da Região Autónoma, com medo de uma meia dúzia de lobos que, desde as últimas eleições, lá tinham estabelecido posição, estrategicamente, para comê-lo vivo ou mostrar-lhe, ao menos, a sua dentadura podre! Felizmente que foi advertido e protegido a tempo pelo diligente presidente da Ilha. Apesar disso, o valente Presidente da Nação conseguiu dar audiência, cá fora, corajosamente, aos perigosos animais selvagens, sem problemas de maior e regressar a Portugal são e salvo. Afinal, toda a gente sabia que os lobos eram de papelão! Um presidente está sujeito a coisas!...

Custa muito, pois, como se constata, ser Presidente da República de todos os portugueses, sendo obrigado a calar, a engolir, a gramar estas e outras, a aguentar o punho cerrado dentro do bolso, sem poder sequer dar com ele um murro na mesa! Porque, coitado, se o fizesse, estava tramado, passaria a ser apenas presidente de alguns…

Já ser presidente de clube custa muito menos. Ganha muito mais e pode ir onde muito bem lhe apetecer, sem ter ninguém a impedir-lhe a passagem. Mesmo na Ilha da Madeira, recentemente conhecida pelos perigosos lobos tresmalhados, segundo aviso do seu prevenido presidente.

Há presidentes e presidentes!

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