sexta-feira, 27 de junho de 2008

TRIBUNAIS EM POLVOROSA-III

Crónica da gritaria que por aí vai

Já previa, nos escritos anteriores, que tal viesse a acontecer.

Estava a linda Inês posta em sossego, quando o Sindicato de Juízes da altura resolveu intervir, junto de D. Afonso IV, em defesa da pátria supostamente posta em perigo. E assim, invocando a protecção do reino contra a potência estrangeira encapotada em amores pecaminosos do príncipe D. Pedro, a bela princesa foi condenada à morte, sepultada...e mais tarde, Mísera e Mesquinha, com auxílio a novos juízes, feita Rainha! A Justiça (ou a falta dela) a condenou à morte e depois a ressuscitou em grande, sempre na subserviência do poder político da altura!

Parece, pois que alguns juízes foram premiados e, logo a seguir, condenados à morte, após a reviravolta do poder em exercício...

Cruzes canhoto!

Honra seja feita à independência da nossa Justiça e aos políticos da actualidade.

Agora o perigo não é a invasão da pátria. É a psicose do medo, a instalar-se.

De repente, saídos do nada, foram descobertos muitos e variados casos, pouco menos que desconhecidos do grande público, de ataques a juízes e a instalações, afirmando-se que há também numerosas situações de risco no funcionamento dos Tribunais, por esse país fora, verificando-se, por exemplo, a falta de policiamento, a deficiência de instalações que são provisórias, em muitos casos, a ausência total de regras de segurança, de celas para os acusados em julgamento, de inspecção de objectos metálicos e de armas à entrada dos tribunais, de um simples porteiro e tudo o mais que, a partir daqui, possa imaginar-se.

E assim passamos, como de costume, de oito para oitenta!

Segundo o Sindicato de Juízes, com excepção dos próprios que são extraordinários de competência e eficácia, tudo na Justiça, é mau, é péssimo, e a culpa está nas instalações e na deficiência dos meios disponibilizados pelo poder político.

Ora isso, por incrível que pareça, não é novidade nenhuma.

Que há, neste país de desgraças, que não seja culpa do governo, das autoridades políticas em serviço?

Mas uma coisa continua a ser verdadeira: o ladrão é que faz a ocasião e não o contrário, como alguns querem fazer crer. A falta de condições e de meios não são as causas da violência e dos ataques à integridade física de quem quer que seja, muito menos dos senhores juízes, aliás muito mais protegidos pela lei e pela polícia do que o comum dos cidadãos. A melhor protecção nunca será infalível.

E seria bom pensarmos todos, em vez de andarmos por aí a tentar encontrar bodes expiatórios para tudo o que não nos agrada, que a manta de retalhos que nos cobre não poderá nunca ser puxada em excesso para o que nos convém, sob pena de deixarmos a descoberto o que convém ao vizinho do lado.

O bom senso nunca será demais, mesmo no que toca à Justiça.

Parece que esta e alguns outros sectores da sociedade acordaram finalmente de longa modorra rotineira e, mesmo assim, apesar de apenas alguns dias decorridos, há já demasiada gritaria, neste momento, a impedir um julgamento sereno das circunstâncias. Seremos acaso, um país de surdos? É que, geralmente, quanto mais se grita, menos razão se tem!

E também é conveniente recordarmos todos que, muitas vezes, pequenas e oportunas medidas, ao nosso alcance, resolvem grandes problemas.

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