sábado, 21 de junho de 2008

FUTEBOL, QUE ALTERNATIVA?

Efeitos tradicionais de uma derrota

Portugal perdeu com a Alemanha, em Futebol. Anda por aí uma tristeza enorme, a contrastar com a onda de euforia que invadia tudo e todos, ainda há bem poucos dias em que até os mais cépticos rejubilavam com as vitórias da selecção.

Portugal era invencível, tinha os melhores jogadores do mundo, o melhor seleccionador, a melhor claque...e nem o aviso da derrota frente à Suíça conseguiu afastar os macaquinhos do sótão da cabeça dos portugueses. Com uma ou outra excepção, até os comentaristas desportivos teciam elogios aos bravos rapazes que dignificavam o país além fronteiras, e estimulavam o orgulho da raia miúda, desde as minúsculas aldeolas do interior até às maiores metrópoles do litoral...

Durante cerca de quinze dias, todas as mazelas que enchiam a cabeça da rapaziada tinham sido esquecidas, desde a subida de preço da gasolina com os bloqueios inerentes, à escassez e carestia de certos alimentos e ao desemprego que não há meio de descer...

Agora, depois da derrota frente à Alemanha que os comentaristas logo se apressaram a reclamar como prevista e sobejamente avisada, encontrados imediatamente os culpados do falhanço, num erro da arbitragem, na ineficácia do Ronaldo, no descuido do Ricardo, na permissividade do Paulo Ferreira ante o marcador alemão de serviço, na falha do Moutinho a não marcar um golo feito, na falta de visão e incompetência do seleccionador... o país mergulhou logo no derrotismo tradicional, passando os responsáveis, no prazo de algumas horas, de bestiais a bestas!

A verdade pura e simples é que os alemães haviam ganho um jogo decisivo e os portugueses, como prémio de consolação habitual, tinham ganho moralmente, e conhecimentos...talvez para enfrentar a próxima, não sabemos se vitória (pouco provável), ou derrota.

Gostaria de saber porque é que o Futebol é, para a maioria dos portugueses, como um jogo de morte, em vez de um mero divertimento.

Mas talvez não seja difícil imaginar uma razão plausível: a falta de outros motivos de alegria capazes de animar, ainda que por curtos períodos, um povo humilde, sofredor, choramingas do fado, há séculos habituado a levar porrada e a não conseguir de livrar-se dela, levantar a cabeça, saber mostrar-se ao nível dos outros...que não são melhores nem piores que ele.

Não sou um grande adepto do futebol, mas algumas lições consegui retirar, nestes últimos cinco anos de futebolite nacional mantida em certo nível.

Em primeiro lugar, o ego da população foi levantado das profundezas, por umas tantas vitórias alcançadas pela equipa que conseguiu chegar a vice-campeã da Europa e manter-se num lugar de mérito entre as selecções congéneres, com jogadores de excepção a serem requisitados pelas maiores equipas europeias.

Em segundo lugar, foi possível, pela contratação de um carismático treinador estrangeiro, ainda por cima brasileiro, mandar às urtigas as consabidas e tradicionais influências e invejas internas entre os treinadores nacionais, os clubes, os jornalistas, todo um mundo de comentaristas e treinadores de bancada responsáveis de uma certa rebaldaria constante em que o nosso futebol sempre viveu, a nível de selecção.

É tudo.

Agora, o seleccionador Scolari que uma simples derrota atirou dos píncaros para o poço mais fundo, já está a ser denegrido pelos videntes à posteriori do costume, embora entretanto tivesse sido contratado pelo Chelsea, por uma verdadeira fortuna. Começa a ser considerado ainda, por outros, como um ingrato para com o país que tão bem o tratou e acarinhou, durante o tempo em que esteve ao comando...Além de humildes, sofredores, macambúzios, somos ainda provincianos de gema!

As bandeiras de Portugal, colocadas com falso orgulho nas sacadas, desde os lugarejos mais recônditos às maiores cidades (ideia incentivada, inteligente e contraditoriamente pelo seleccionador brasileiro!) deixaram de ondular ao vento, embora permaneçam coladas, murchas, condenadas a desbotar lentamente, a apodrecer às intempéries, como lembrança de um sonho lindo que não chegou a ser realizado.

Como de costume.

E assim, também como habitualmente acontece com coisas mais sérias, mais uma vez permanecemos remoendo, remoendo eternamente nesta «apagada e vil tristeza» tão bem descrita pelo poeta há mais de quatrocentos anos...e de cujas amarras nem o futebol conseguiu soltar-nos!

E alternativas?

Talvez uma boa sardinhada afogada em tintol, ou um jogo da bisca, a feijões...

As marchas do Santo António na Capital do País já lá vão, mas aproxima-se o feriado do São João, na Capital do Norte onde as gentes já começam a preparar-se para a tradicional pilhéria dos martelinhos, aromatizada pelos manjericos da ordem e complementada pelo imprescindível alho porro.

Viva Portugal!

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