sexta-feira, 13 de junho de 2008

BÚFALOS E TELEMÓVEIS

Crónica dos dias que passam

Parece mal escrever sobre a crise petrolífera, tanto já foi dito e escrito, nestes últimos dois meses. Não devia, portanto, escrever mais sobre isso, a não ser que viesse por tabela, a propósito de outro assunto.

Ora foi precisamente o que aconteceu. Passando os olhos por um diário, dei de caras com uma notícia sensacional: «a subida imparável do preço do petróleo está a obrigar os agricultores tailandeses a substituírem a maquinaria por búfalos para poupar nos custos de produção. Chumpol Thitika, proprietário de seis búfalos-de-água que aluga aos agricultores, referiu que, não obstante estes animais serem mais lentos do que as máquinas, tem uma lista de espera de vários camponeses que pediram o seu recurso para trabalhar as terras.»

E aqui está como os agricultores tailandeses deram a volta à crise do petróleo, passando a usar, em vez da maquinaria a gasóleo, búfalos-de-água!

Mas trata-se da Tailândia, onde a coisa, como se vê, é levada muito a sério pelas gentes. Em Portugal, onde o desenrascanço é a ordem de serviço que os portugueses mais conhecem e põem em prática, a coisa resolve-se com muito mais facilidade. Basta mudar de telemóvel, atravancar as estradas de camiões e exigir subsídios...

Foi o que pude concluir de uma outra notícia do mesmo diário que, umas linhas abaixo, dizia simplesmente que «em Portugal foram vendidos 1,48 milhões de telemóveis no primeiro trimestre do ano, um aumento de 14,1% quando comparado com o mesmo período em 2007».

É obra! A vida está cara, a gasolina anda pela hora da morte, o preço da alimentação sobe todos os dias, o crédito mal parado é uma desgraça, cada vez há mais casas hipotecadas ao fisco, o desemprego não há meio de baixar, e a venda de telemóveis continua a subir, de forma imparável, especialmente dos modelos mais caros da Nokia e da Samsung, com espelho, MP3, máquina fotográfica digital de 3 ou 4 megapixeis, GPS, internet, etc...

Estou perplexo. Não sei, sinceramente, o que isto quer dizer, mas o mais certo é eu estar enganado nesta minha apreciação um tanto ou quanto moralista.

A malta deve ganhar bem, muito bem, mesmo. Eu é que devo ganhar muito pouco, já que não disponho de meios para passar do meu fraquinho e antiquado Alcatel que há três anos me custou 8 euros, mais 3 de um carregador para o isqueiro do carro, comprado no chinês da esquina.

A verdade é que também não tenho dinheiro, nem gasolina disponível, nem tempo, para ir passar dois ou três dias a entupir estradas, a chatear quem passa e a reclamar o meu subsidiozito.

Provavelmente o mal está aí...Eu e os outros como eu somos cidadãos honestos e cumpridores, envergonhados demais para reclamar o que quer que seja, com razão ou sem ela.

Mas já estou velho para telemóveis topo e gama ou para brincadeiras de mau gosto na via pública. Por outro lado, também não queria acabar os meus dias como os agricultores dos arrozais da Tailândia...

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