quarta-feira, 18 de junho de 2008

FUGITIVOS TRANQUILOS

Nas barbas da polícia e dos tribunais

Há poucos anos, um senhor bem conhecido, ex-secretário de outro ainda mais conhecido, apareceu por aí, nos ecrãs da TV, vangloriando-se de que, apesar de estar incriminado em várias situações escabrosas, com processos à perna, nunca tinha sido julgado, por ausência de notificação, não obstante residir no Algarve e trabalhar normalmente como agente comercial, etc.

Também há relativamente pouco tempo foi tornado público o caso de um senhor deputado com dezenas de multas de viação e infracções graves acumuladas em vários anos e nunca pagas, muito menos castigadas. Apesar de ter vários julgamentos agendados, não ligava nenhuma, nem sequer se sentia na ilegalidade, porque não tinha sido possível notificá-lo. Nunca o carteiro nem a polícia o encontravam na residência oficial declarada!

Hoje, uma notícia do C.M. dava conta de que a PJ havia detido em Montemor-o-Velho uma mulher, natural de Aveiro, que andava evadida da prisão há quinze anos, onde cumpria pena por tráfico de estupefacientes. A cadastrada, depois da evasão, até teve quatro filhos que foram registados em seu nome, etc., etc.

Como se já não bastassem os casos caricatos que as nossas instituições nos proporcionam, de vez em quando, sempre baseadas no rigor dos regulamentos e dos códigos miudinhos que as regem, aparecem, com alguma frequência, casos anedóticos como estes a obrigar-nos a rir, à socapa, e a pensar, quanto mais não seja, que estamos no país de faz-de-conta...

Parece que, ao menos por enquanto, só a ASAE corta a direito e faz cumprir a lei, para desespero dos cidadãos desde cedo habituados às infracções sem castigo. E agora são coitadinhos...

Quem haverá, pois, que com um pouco de senso comum, não se sinta triste com estas palhaçadas e contradições que ocorrem no Portugal da gente talvez pouco instruída, mas boa, humilde, prestável, pacífica, acolhedora?

Restar-lhes-á apenas o consolo do mal dos outros?

Há países muito mais avançados do que nós, financeira e tecnologicamente falando, e onde assistimos a coisas bem piores. E não se trata de anedotas!

Mesmo assim, eu não me sinto feliz.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muitos nem são propriamente fugitivos.
Recorde-se que um bom agente da autoridade é aquele que conhece bem as vírgulas do respectivo código e que as aplica sem pestanejar, a menos que o superior hierárquico ou mesmo outro colega lhe dê um toque para não actuar de imediato comunicando-lhe, por exemplo, que tal não é oportuno ou que continuam as averiguações, ou, ... qualquer outra coisa que sirva para empatar.
Porém, há que cumprir a lei à letra ou melhor, a letra da lei, muito em especial se o indiciado ou prevaricador for de classe baixa, mendigo ou maltrapilho, cigano, preto ou imigrante, ou se, não sendo nada disso, questionar a autoridade ou o autoritarismo do agente. Aí, até se arrisca a levar uns sopapos na esquadra mais próxima, na qual, se houver mais de um polícia de serviço, a sua integridade física fica seriamente ameaçada.