Economistas, arrivistas e outras pistas
Não sou economista, não percebo nada de Economia e muito menos de vigarices. Tenho os economistas em grande apreço porque sabem do seu ofício, fazem as suas licenciaturas, os seus mestrados, os seus doutoramentos como tantos outros profissionais dignos que há por aí, e têm também, como eles, os seus problemas, as suas dúvidas legítimas.
No entanto, e à semelhança de alguns encartados de outras profissões, os economistas, enfronhados na teia da situação económica actual e atraídos embora pela força que ela exerce sobre as sociedades modernas, acabam dominados pelo poder e fascínio a que a Comunicação Social submete os cidadãos, deixam-se arrastar por ela, infantilmente, como crianças perdidas por caramelos...
Antigamente dava-se um passeio à vizinha Espanha com as crianças, porque os caramelos eram lá mais baratos e a pequenada ficava contente. Acontecia que quase sempre se trazia mais dois ou três pacotes para consumo à distância, ou para oferta aos sobrinhos...Mas agora, os caramelos já não entusiasmam tanto a pequenada e quem vai a Espanha procura atestar o depósito de gasolina, antes do regresso, mesmo sabendo que, por vezes, é da mesma que a refinaria da Petrogal produz e vende também a «nuestros hermanos». O que interessa ao pagode é que os espanhóis vendem o artigo mais barato e o resto importa-lhe um pepino...
Nunca vi o tema dos caramelos bem explicado pelos economistas comentaristas de serviço nas diversas modalidades da imprensa. Era um tema de somenos importância. E agora, o tema do petróleo, vai pela mesma...embora a dimensão seja outra.
Neste caso, há conjecturas a mais sobre a existência de novas jazidas e o fim das actualmente exploradas, a evolução dos preços do petróleo, o seu peso nas diversas economias, no bem-estar social, em mil e uma coisas, mas o interessante é que, a propósito de qualquer delas é sempre possível ler, ver ou ouvir as mais diversas opiniões e as suas contrárias. Tudo fruto de apreciações de encartados economistas que, no mínimo dos mínimos, estarão mal informados...
Vejamos algumas notícias veiculadas pela imprensa, com base em informações de economistas, que nos podem deixar perplexos.
Por exemplo, o Governo estima o crescimento em 1,5%, a Oposição não dá mais que 1,2 e a OCDE oferece 1,6. O Governo diz que não se podem baixar impostos, a Oposição afirma que é obrigatório fazê-lo e a CE impede qualquer alteração. O Governo acha que o desemprego pode diminuir, a Oposição garante que vai aumentar e a OCDE que se manterá entre limites aproximados. O Governo estabelece a livre concorrência do preço de venda do petróleo, a Oposição deseja que se estabeleça um preço fixo e a CE diz que cada um que se amanhe... O Governo nega subsídios por dá cá aquela palha, a Oposição pede a entrega dos subsídios a todo o mundo, por todas as ninharias imaginárias e a CE cada vez mais restringe o acesso aos fundos comunitários...Quanto aos bens alimentares que sobem de preço, o Governo acalma os cidadãos, a Oposição açula-os contra o Governo, a UE acha excessivos ou até desnecessários os subsídios à Agricultura e às Pescas e vai acabando com eles. Relativamente ao desemprego, o Governo diz que há indícios de melhoria, a Oposição que continua em crescimento acelerado, a CE que irá melhorar só para o próximo ano. Sobre a inflação em geral, o governo diz que anda estabilizada perto de 2,5%, a oposição que está nos 3,5 e a EU que deverá ficar 5 pontos acima do valor actual...
E todos estes valores, todas estas conjecturas são fruto de contas e mais contas de economistas credenciados. Com bases de dados diferentes...ou apenas com objectivos diferentes?
Cada vez percebo menos de Economia, cada vez sou mais confrontado com o «Economês» que por aí anda. No tempo do tão odiado Salazar, por exemplo, toda a gente sabia o que significava apertar o cinto, porque os portugueses eram magrinhos com mais de um século de lutas civis, discussões sem fim e bombinhas que não eram de Carnaval. Lembro-me de que o Grande Chefe era professor de Economia, mas tratava de explicar aos cidadãos, na maioria analfabetos, que a nível nacional ela funcionava muito simplesmente como a economia caseira, isto é, não se podia gastar mais do que se ganhava, sob pena de deixar a família morrer à fome, ou na insolvência que dava prisão, pela certa! Naquele tempo não havia cheques, nem dinheiro plástico, nem internet, nem tantas outras facilidades a que a Economia actual nos habituou, muitas vezes transformadas, paralelamente, em vigarices sem nome, autênticos buracos onde muitos caem, apesar de agora já serem portugueses gordinhos, anafados por décadas de tranquilidade e subsídios...
Por isso, a escrita tão simples do Deve e do Haver se tornou agora num complicado puzzle, em português corrente (cada vez menos falado na linguagem técnica) enigma, adivinha, enredo, confusão, embaraço, charada, etc., etc. ... Por isso também os antigos guarda-livros desapareceram do mapa, e a Economia, mesmo a caseira, tornou-se uma incógnita, neste mundo das tais facilidades de toda a ordem. E, na realidade, não falemos de uma incógnita, mas de muitas incógnitas à espera de resolução de milhares de equações, com milhões de parâmetros que não nos permitem nunca saber nada de nada e apenas andar a reboque de alguns economistas que ainda parece saberem menos, e dos arrivistas que aparecem a atrapalhar as nossos cálculos básicos, pelo caminho. Claro, estes são mais rápidos a actuar, não precisam de fazer as grandes contas de que se ocupam os economistas e, intuitivamente, sem fórmulas matemáticas, estatísticas ou calculadoras gigantes, chegam, ou parece que chegam muitas vezes às mesmas conclusões, quais pitonisas de serviço! Que confusão incrível!
Já pensei também que, provavelmente, com a crise de Matemática que inunda o país, a maioria dos economistas passa a vida a enganar-se nas contas ou a tomar as estatísticas como soluções em vez de hipóteses, facto que a imprensa coscuvilheira logo aproveita para nos dar informações erradas do panorama nacional ou mundial...porque algumas apreciações que se vêm por aí sobre a crise do petróleo têm tão pouca credibilidade e bom senso que são de morrer a rir.
Não sei quanto a C.S. paga aos comentaristas economistas de serviço pelas suas tiradas formativas info-desinformativas tantas vezes em contradição com as do comunicador do canal vizinho, mas parece-me que algo errado anda por aí, ou a política também mete o bedelho na Economia, no mau sentido, claro está. Isso concorre muito para o facto de uns quantos desbocados chamarem já, no recôndito das suas apreciações televisivas ou jornalísticas caseiras, arrivistas aos economistas, nada que não se tenha chamado antes aos políticos, que estas associações, de que há suspeitas, têm destes inconvenientes.
O meu desconhecimento da matéria não me dá o direito de chamar nomes a quem quer que seja. Mas por vezes, é verdade, depois de ouvir ou ler alguns confusos ou tendenciosos pareceres dos sábios, apetece-me regressar à minha tranquila e cómoda ignorância, o que pode ser um perfeito anacronismo nos tempos que correm, mas é um descanso reparador!
Já os filósofos gregos diziam que, quanto mais sabemos, mais dúvidas ocupam o nosso pensamento. Coisa que não sucede com os vigaristas que têm sempre, segundo eles, o máximo conhecimento de todas as coisas e a máxima segurança em tudo o que fazem...
Convenhamos, fora de brincadeiras, que o tema é muito complicado.
A única coisa certa neste momento é que, entretanto, o petróleo vai enchendo os barris por preços cada vez mais altos e a crise continua, com os economistas a fazer diagnósticos, a emitir terapêuticas e a fazer prognósticos para todos os gostos.
Como sempre. E com a cumplicidade da Imprensa.
Mas nem sempre com a independência exigida, nem sempre com o devido respeito pelo cidadão comum, nem sempre com simplicidade e bom senso.
Mas quem sou eu para julgar?