Os homens são uns malandros!
Mais um estudo, igual a tantos outros, vem hoje publicitado na Comunicação Social. Pretende demonstrar que são os genes os principais responsáveis pelos cabelos brancos que se vão adquirindo ao longo da vida e que o stress ou a dieta pouco interferem nesta equação, ao contrário do que muita gente pensa.
Ora eu, que sou um ignorante em matéria de cabelos, sejam brancos, pretos ou oxigenados, fiquei a saber, sem margem para dúvidas, que tudo o que até aqui se vem dizendo a este respeito, pelo mundo fora, desde tempos imemoriais, deve ter sido uma invenção de Matusalém transmitida através de gerações incultas, tanto mais que, na época do várias vezes centenário patriarca bíblico não havia universidades nem estudos, nem outras fontes de conhecimento avançado que permitissem à meia dúzia de humanos carecas e barbudos seus compatriotas concluir outra coisa ou o seu contrário. De facto, filosofando um pouco sobre este tema, nem mesmo outra conclusão diferente Matusalém poderia ter sugerido ao mundo porque, no seu tempo, não havia computadores, nem stress, nem Mac Donald´s, e as dietas, se existiam, não eram naturais, mas naturalmente provocadas pela eventual escassez de alimentos, ou mesmo pela fome acidental. Interiorizou e legislou para s vindouros que as dificuldades e as amarguras da vida eram a causa dos cabelos brancos…Só nos nossos dias é que nasceram os stresses e as dietas.
Por outro lado, desde que a descodificação do ADN entrou na berlinda do nosso quotidiano, nada haverá que não seja atribuído aos genes ou às suas potenciais combinações, por cientistas (cada vez em maior número) ou simples cavadores de enxada (quase em vias de extinção).
Para mim, este estudo só peca, pois, por defeito, porque o interessante seria a identificação do gene ou combinação de genes responsáveis pelo aparecimento dos cabelos brancos. E, chegados a este ponto, verificamos que os autores do tal estudo (parece que a maioria era de mulheres) não tiveram estaleca para tanto, e se quedaram pela trivial conclusão agora publicitada num conhecido periódico, entre artigos de caça à droga, violência doméstica ou fofoca do Face Oculta.
Mas foi assim, através da leitura da notícia, que me lembrei de um fado velhinho que o malogrado Alfredo Marceneiro cantava, mesmo sem estudos literários ou outros quaisquer, incluindo o da própria guitarra que o acompanhava, «cabelo branco é saudade» … Nunca foi desmentido, que eu saiba.
A sorte dele e dos actuais fadistas, aliás, é que os fazedores de estudos, que hoje pululam por aí, não gostam nem percebem nada de fado. E, sendo assim, poderão estar descansados. Mal fora, se algum destes investigadores se lembrasse de estudar a relação dos cabelos brancos com a saudade, para concluir, cheio de glória, que isso não passava do efeito de um maldito gene…
Mas há maduros capazes de tudo.
Os genes originam coisas engraçadas, a par de outras que não têm graça nenhuma. Um amigo que conheci, com cabelo mais retinto que a graxa com que tingia os sapatos, foi vitimado por uma terrível doença que, em curtos anos, os deixou quase da cor da cal da parede. É mais que sabido que certos agentes químicos utilizados em terapêutica, em casos como este e outros, podem provocar a descoloração do cabelo ou mesmo o aparecimento de brancas.
O estudo a que me refiro, contudo, foi realizado, segundo a notícia, em duzentas irmãs gémeas, homo e heterozigóticas, de idades entre os cinquenta e nove e os oitenta e um anos, sendo que, segundo uma investigadora, os resultados apenas nas falsas gémeas destoavam um pouco, o que era natural. Porém, a estudiosa, cientista e dermatologista britânica, acrescentava no fim, à cautela, que pode haver excepções…
E assim, ainda não foi desta que os tês biliões de mulheres que há neste mundo ficaram a saber a partir de que idade necessitarão de ir ao cabeleireiro tingir os cabelos, para mudar de visual…
Quanto aos homens, nada é referido, provavelmente porque muitos deles cedo ficam carecas. São uns malandros!