domingo, 25 de novembro de 2007

Lugares comuns

A ENTREVISTA E OS RECADOS

O Inspector Geral da Administração Interna, provavelmente não tendo coragem para expor directamente ao Ministro, os seus próprios problemas, ou não tendo recebido deste o apoio que pretenderia, resolveu mandar a alguém uns recados, via entrevista à Comunicação Social como agora vai sendo hábito, no aproveitamento simultâneo que esta vem fazendo na capitalização, em seu proveito, do descontentamento alheio…

Como resultado imediato, conseguiu alinhar todos os sindicatos, organizações profissionais, partidos da oposição e todos aqueles cuja profissão (ao contrário do que apregoam) é denegrir e deitar abaixo quem não concorda com eles, contra o desgraçado, solitário Ministro, desta forma obrigado a vir a terreiro quando não contava…Mas a vida de político é isto mesmo: desfrutar de bombos e festas por um lado, sofrer picardias e traulitadas por outro.

«Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele», lá diz o povo, na sua infinita sabedoria que eu cada vez aprecio mais.

Mas, bem vistas as coisas, entrevistas e recados é o que está a dar na Comunicação Social! Geralmente, com este sistema matam-se dois coelhos, de cada vez. Por poucos patacos, enchem-se umas boas páginas com temas que eventualmente vão agradar aos leitores superficiais e coscuvilheiros e, por via disso, consegue-se aumentar ou sustentar as vendas que eventualmente começavam a cair…Por outro lado, a técnica para obter uma entrevista deste tipo tornou-se quase um lugar comum e não necessita de grandes estudos ou pesquisas.

Com uma sociedade cada vez mais virada para o lucro fácil e o confronto de ideias -ou parvoíces – a propósito de tudo e de nada, com a seriedade dos factos e das notícias (que dão trabalho inegável), cada vez mais a perder terreno para a fofoca que todo o mundo apreende e explora num ápice sem custar qualquer esforço…a entrevista superficial e fofoqueira tem a vantagem de chegar e ser vendida rapidamente a toda a gente e, ao mesmo tempo, servir aos patos-espertos entrevistados para escoamento de prosápias, ressentimentos ou acusações aos inimigos de ocasião…

Alguém sai, portanto, geralmente sujo no retrato feito na entrevista. Provavelmente, em muitas delas, será esse mesmo o objectivo subjacente na artimanha jornalístico-informativa, o que é ainda mais deplorável.

Mas numa coisa tenho que tirar o chapéu à Comunicação Social: saber tirar lucro a dobrar deste tipo de entrevistas e nunca perder a embalagem para a próxima. Faz-me lembrar uma certa definição que uma vez, há muitos anos, li no Borda de Água:

«Judeu: indivíduo que, com uma pedra mata dois coelhos…e ainda quer a pedra!»

Os judeus que me perdoem.

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