domingo, 25 de novembro de 2007

Estou frito!

A FRASE do Público:

"Vivemos sobre um despotismo 'iluminado' que não aceita a irregularidade, a dissidência, o direito de cada um à sua própria vida e ao uso irrestrito da sua própria cabeça." Vasco Pulido Valente, 25-11-2007

ESTOU FRITO!

Já sinto a cabeça à roda, depois de ler esta tirada.

Esta tarde fui fazer algumas compras ao hipermercado, lugar desaconselhado e nunca visitado por alguns irregulares dissidentes de zonas bem (único sítio, segundo alguns, onde há direito à vida) que não se misturam com multidões e preferem a mercearia da esquina onde são tratados com a maior deferência, aliás, sem as filas de pagamento nem os encontrões involuntários. Aos sábados e domingos eles levantam-se pelas dez e meia, saem depois do pequeno almoço, muito aprumados, a comprar o jornal de referência, sentando-se depois no café da elite, o melhor da zona, a lê-lo tranquilamente, ante a consabida bica normal, servida a pedido em chávena previamente escaldada, pedido que o moço atende, solícito, com o sorriso nos lábios e uma leve inclinação de pescoço…

Mas eu prefiro o hipermercado. Ando metido no meio da gente, ouço, mesmo sem querer, os seus comentários à carestia da vida, aos problemas dos filhos nos ATL, às dificuldades nos transportes públicos, às sequências das melhores telenovelas, aos resultados do futebol, às doenças da família, eu sei lá que mais!... Quase não necessito de ler o jornal!

Meto as compras para toda a semana, na bagageira do carro, e lá vou direito a casa, satisfeito com o dever cumprido. Longe de mim, pois, deslocar-me diariamente à mercearia para adquirir o açúcar para o chá, ou a alface para a salada, ou as anonas que haviam ficado esquecidas… nem à padaria da rua em frente, todas as manhãs, logo cedinho, quer chova ou faça sol, a comprar o pão fresquinho para o pequeno almoço ou os croissants para o lanche…

Faço parte do maralhal e não dos irregulares dissidentes que tratam da sua vida com exclusividade, no uso restrito (não restritivo) da sua cabeça, que não escutam nunca as opiniões dos outros, os quais julgam, por andarem em grupo, por andarem nos mesmos lugares, por comprarem todos as mesmas coisas, por vestirem todos roupas idênticas, por viverem todos em andares de bairro, por mandarem todos os filhos para as escolas públicas, por andarem todos em carros rascas, por contarem todos o dinheiro até ao último cêntimo e por festejarem sempre nos restaurantes de terceira...como seres inferiores a contactar o menos possível.

Mas é este maralhal de supermercado que constitui a grande maioria da nação, que discute a carestia da vida, que discute a bola e também outras coisas quando é necessário, que reclama quando se sente prejudicada, que por vezes leva ainda a sua bastonadazita, mas que não entende nada desse «despotismo iluminado» que tanto choca a gente fina que também escreve nos periódicos de referência feitos por ela e só para ela ler...

Já disse tontarias em excesso. Perdi a cabeça. Aí vem o «despotismo iluminado» do V.P.V….

Estou frito!

2 comentários:

whocares disse...

" ( ... )Já disse tontarias em excesso. Perdi a cabeça. Aí vem o «despotismo iluminado» do V.P.V….

Estou frito! "

Ah, não tenha medo.

Todos somos de fraca memória neste Portugal ( tirando o tal, o Rei, que era o da boa ) e eu ainda estou à espera que alguem frite um tal senhor que, ao ser inquirido porque não esclarecia o povo ( o tal, do supermenrcado que deita contas à vida ) sobre o que viria a fazer o Tratado de Maastricht em beneficio desse mesmo povo, o cavalheiro, em tom arrogante e bonacheirão disse que o povo não ia entender, não valia a pena explicar.

Muita gente ficou frita, depois disso ... mas o senhor continua a passear-se tranquilamente com protector solar pela praia dos Tomates.
E não frita, porque o protector solar não é do que se vende no supermercado da populaça que não o entende.

Continua por fritar ... e assim permanecerá.

Neste Pais ( com maisuscula, sim, é preciso patriotismo ) nem V.P.V., com o seu despotismo iluminado, nem o tal senhor, do PIB, que afinal ninguem chegou a saber de quanto era ( nem ele próprio, coitado ), olham segunda vez para o que escrevem, ou o que dizem.

Havendo quem leia, havendo quem ouça ...

Anónimo disse...

"Mas eu prefiro o hipermercado. Ando metido no meio da gente, ouço, mesmo sem querer, os seus comentários à carestia da vida, aos problemas dos filhos nos ATL, às dificuldades nos transportes públicos, às sequências das melhores telenovelas, aos resultados do futebol, às doenças da família, eu sei lá que mais!... Quase não necessito de ler o jornal!"

-Eu tambem !!!