Medicamentos e Produtos: Um café por dia pode prevenir Alzheimer
Publicado: segunda-feira, 26 de Nov de 2007 - 08:00
Investigação desenvolvida na Universidade de Coimbra
Adágios como “somos o que comemos” ou “one apple a day keeps the doctor away” (uma maçã por dia mantém o médico à distância) são antigos e têm por base ideias relacionadas com as propriedades de alguns alimentos que contribuem para o bem-estar de quem os consome. Uma equipa de cientistas do Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra concluiu agora que também uma chávena de café por dia poderá ser útil na prevenção da doença de Alzheimer.
CAFÉ DE VALOR ACRESCENTADO
Quando era Salazar quem mandava, atribuíam-lhe a frase: beber vinho é dar de comer a não sei quantos milhões de portugueses. Hoje, não sei quantos devem a vida à pinga que outros bebem, nem quantos a perdem, na prática da tradicional bebedeira, ou ainda nos atropelamentos diários com origem na utilização em excesso da bebida espirituosa emborcada por condutores viciados no sumo da uva fermentado. A única coisa que sei é que, naquele tempo, a marca de vinho mais vendida era o Vinho a Martelo distribuído pelas tascas de todo o país e de teor alcoólico por elas convenientemente ajustado, o qual deixava no fundo dos copos quase um centímetro de borra e cujas manchas no vestuário eram impossíveis de tirar. Por outro lado, a plantação de sabugueiros e a venda da milagrosa baga não sei quanto dinheiro dariam a ganhar aos artesanais produtores da mistela, certamente muito mais que as reduzidas e conceituadas marcas, essas sim distribuídas pelas mercearias finas e de aquisição preferencial nas alturas festivas, ou regularmente pelas famílias de maiores posses.
Como os tempos mudam! Já o Camões dizia o mesmo há mais de quatrocentos anos e, certamente não foi ele a fazer a descoberta. Também não fui eu a descobrir que agora, nos supermercados, nos bares, restaurantes, em todo o sítio em que imperam bebidas, as marcas de vinhos portugueses são às centenas, com os mais variados gostos, cores, preços, embalagens, propagandas e clientes! Abundam igualmente os catálogos, os livros que expõem os melhores vinhos, os que ensinam a apreciar e os que incentivam a comprar, os quais se vão editando já anualmente, por força do acrescentamento de novas marcas e novos sabores, etc., conforme o tempo foi seco ou chuvoso, o míldio ou o oídio marcaram as castas, os cascos de cura são ou não de carvalho puro…
Uma coisa é certa: o vinho de hoje, propagandeado como agente antioxidante (certamente não tanto como o vinho a martelo!), já não tem o sabor de pezunho de antigamente. As máquinas que substituíram os pés dão cabo dos cachos enquanto o diabo esfrega um olho, isto é, o tempo que dura ligar a ficha à corrente e carregar no botão…pouco mais! Os lagares de pedra com a respectiva prensa são já quase uma relíquia, tendo as dornas sido substituídas por enormes tanques de aço inoxidável 316, polimento fino, e os românticos escravos transportadores de cestos às costas para os ronceiros e chiadores carros de bois, substituídos igualmente por funcionários de recipiente plástico a tiracolo ou com rodinhas, levando os frutos para grandes camiões rápidos, seguros, economizadores de tempo, mão de obra e dinheiro…
Também já vai longe o tempo em que os trabalhadores das vindimas bebiam o seu copito de vez em quando, para animar as hostes, acompanhando com álcool a imprescindível merenda, agora mastigada com ajuda da cervejinha ou da coca-cola, tornadas já tradicionais em Portugal, de algum tempo a esta parte. E, para finalizar, café!
O cafezinho com o qual os brasileiros nos colonizaram, mais rapidamente que nós a eles, valha a verdade, pegou por todo o lado, incentivado o seu uso pelas máquinas inventadas pelos italianos espertalhões compradores do grão…tirando do facto um valor acrescentado notável!
É o que falta aos portugueses, afinal: persistência na acção. Contentamo-nos com descobrir, fabricar e exportar o básico: a cortiça, o vinho do Porto (ou foram os ingleses?), o galo de Barcelos, o queijo limiano, os figos do Algarve, a cravagem do centeio, o volfrâmio, a pimenta e o caril da Índia, etc., o café da Arábia…e descansamos sempre sob os louros da descoberta fácil, que trabalho é para o preto, sem desprimor para a raça negra, claro!
Essa do valor acrescentado, também por redundante acréscimo, não foi inventada pelos portugueses. Dava muito trabalho! Mais fácil foi pegar no IVA que outros em aflição teriam descoberto e aumentá-lo, de 10, para 12, 15, 17, 19, 21%, coisa que não tinha lembrado antes ao diabo, muito menos aos nossos amigos europeus…
Mas nós, portugueses, penso que não devemos ser assim tão depreciados. Acho que devemos ter um mínimo de orgulho nacional. Há inventos dos quais, por força do seu uso corriqueiro, nem chegamos a avaliar a importância. Também é certo que algumas descobertas da nossa gente, pela sua tradicional humildade, nunca chegaram a ser personalizadas e premiadas, como é o caso do vinho a martelo! Outras estão em risco de desaparecer, como o galo de Barcelos que um maduro qualquer teve a ideia de certificar, matando assim os candongueiros, graça e alma do negócio. Já a situação do queijo limiano é muito diferente. Veio mais um espertalhão estrangeiro, levou a arte para Vale de Cambra, onde o leite era a pataco, e fez o seu próprio Agosto, para desgosto do carismático presidente de Ponte de Lima; numa segunda fase, levará o queijo para Itália, a fim de recuperar as finanças da Parmalat, vendendo-o depois com o tal valor acrescentado (provavelmente só um rótulo novo) ao Jumbo, ao Continente, etc… Também o inventor dos figos secos do Algarve teve certamente uma história triste, pois era moiro e aí os portugueses, com a conquista, apropriaram-se dos direitos do homem; mas cometeram o erro sistemático de não registar a patente e assim desataram a aparecer os concorrentes ciganos com os cestinhos de figo, as caravelas, os bonecos, etc., etc., Como o produto nunca foi também certificado, começaram a aparecer cópias com lagartas, as figueiras deixam-se ultrapassar pelos arranha-céus e os turcos fizeram o resto, levando o know how dos algarvios para a sua terra, donde vendem e exportam agora o produto, com enorme valor acrescentado, aos portugueses, algarvios incluídos!
A cravagem do centeio, o célebre «lenticão» que no tempo da segunda Guerra Mundial foi uma ajuda preciosa aos rurais da Beira Interior, nunca foi aproveitado pelos industriais nacionais, cujos familiares utilizam, sob receita médica, os seus alcalóides terapêuticos, vendidos pelos suíços com o tal larguíssimo valor acrescentado…
Do volfrâmio, nem vale a pena falar. Trocado aos alemães, durante a guerra, por dentes de ouro dos judeus internados nos campos de concentração, por ali ficou, enterrado na Panasqueira, logo que deixou de haver dentes disponíveis!
A pimenta e o caril da Índia, depressa foram moídos e embalados pelos ingleses, holandeses, franceses, alemães, etc., e logo vendidos aos nossos supermercados em embalagens de rótulos vistosos, ou dentro de engenhosos, práticos, artísticos moinhos de levar à mesa…com o valor acrescentado correspondente.
Não sei quanto tempo a cortiça vai resistir aos russos impulsivos. Estou mesmo a ver que o Amorim, com o tempo, ainda se farta dela e se mete a produtor de petróleo e deixa os sobreiros para os tipos da Portucale ou outros empreendimentos turísticos, isto se a virose que está a espalhar-se pelo Alentejo não tomar a dianteira. Tratar das árvores é caro e dá muito trabalho. Transformar as que estão doentes em lenha para a lareira dos novos-ricos caçadores e compradores de montes de fim-de-semana é muito mais rentável. Assim como assim, segundo uma notícia que vi há umas horas atrás, na internet, está a ser descoberto petróleo e gás natural nos concelhos de Alenquer e de Alcobaça, o que vai lixar a Ota, de vez…e talvez os pomares do Oeste e o mosteiro que o D. Afonso Henriques mandou erguer com os lucros das conquistas aos mouros e uma grande visão, religiosa e comercial. Pena que o tal valor acrescentado tão patrioticamente conseguido pelo nosso primeiro rei venha a ser delapidado pela perfuradora de algum megalómano do Texas ou do Mar Cáspio…
Falta falar do Vinho do Porto das marcas inglesas que criam o tal valor acrescentado paras uvas que a falida Casa do Douro se entretém a proteger, não vão os ingleses perder o seu gosto por essa pinga secular…Nas Caves de Gaia, da Sandeman, da Calem, da Croft, da Kopke, da que já foi Ferreirinha, lá andam os portugueses a fazer de finos, em pequenas pândegas turísticas, para inglês ver…e tirar proveito.
Parece que terminei de apreciar os itens acima indicados. Poderia continuar por largas páginas, mas seria fastidioso demais para quem se atrevesse a ler isto. E até para mim. Não tenho antioxidante para tanto!
Quase me esquecia do café da Arábia que os portugueses levaram para o Brasil e agora compram com marcas italianas…portanto de duplo valor acrescentado!
A propósito, apetece-me um cafezinho…quero dizer, uma bica bem tirada numa máquina que tenho na cozinha. É fácil: tiro o café em grão, da embalagem Buondi ou Segafredo, meto uma porção no moinho Braun, tomo duas medidas para a máquina de café Krupp, recolho a bica, vulgo cimbalino, na chávena de porcelana italiana, mexo o líquido adoçado com Canderel da Searl, utilizando a colherinha de aço inglês e delicio-me, tomando e saboreando devagar o líquido quente aos golinhos, sem queimar os dentes e as gengivas postiças de material alemão…
Que bem que sabe! Ainda para mais, a água do Luso, apresentada em garrafas de plástico da Marinha Grande, que meti no depósito da Krupp, é do melhor que há e não sabe a cloro. Dá para apagar as tristezas de tanto desperdício que referi.
Mas uma dúvida me assalta, de repente. Será ainda nossa, a Água do Luso? E a fábrica da Marinha Grande não estará a pagar uns estratégicos royalties pelas técnicas e as máquinas que usa?
Sei, não, como dizem os colonizadores brasileiros.
Também não importa. Este cafezinho já ninguém mo tira.
E o melhor é que ainda há pouco li a notícia de última hora de uma investigadora científica da Universidade de Coimbra, publicada e enviada patrioticamente para todas as partes do Mundo, afirmando categoricamente que uma chávena de café, tomada diariamente, era o melhor preventivo para a doença de Alzheimer!!!
Avante portugueses! Aqui está uma descoberta científica com um valor acrescentado dos diabos!
E eu que cheguei a tomar, durante vários anos, dez cafés por dia… Estou salvo!
Mas, pensando bem, seriam mesmo dez?... Ou nove?...
Chatice! Terei utilizado correctamente a Krupp? Terei metido sempre a quantidade certa de Segafredo na máquina?
Estou perdido! Já não me lembro…