quarta-feira, 12 de agosto de 2009

MONARQUIA SEM MONÁRQUICOS


República sem republicanos

Logo no início do dia 11 de Agosto, um grupo de patuscos imaginou e pôs em prática um «assalto» à varanda da fachada principal do edifício da Câmara Municipal de Lisboa, arriou a bandeira da respeitável Instituição e colocou no seu lugar a da Monarquia que vigorava há 99 anos.
O interessante da pilhéria foi o facto dela ser levada a cabo pouco depois da meia-noite, por um indivíduo sem disfarce, utilizando uma vulgar escada de três metros por ele próprio encostada calmamente à fachada, com todo o acto a ser tranquilamente filmado por outro compincha. O vídeo foi logo colocado na Net. Mostra como decorreu toda a operação e como, arriada a bandeira camarária, o içar do símbolo da Monarquia foi acompanhado pelos acordes do Hino da Carta… ou da Maria da Fonte.
Mais interessante ainda foi o facto de ter ocorrido na área de maior concentração de edifícios públicos por metro quadrado, com polícia de guarda tradicionalmente postada por tudo quanto é sítio… ou talvez não, nestes tempos de escassez ou de contestações.
Num país onde a Comunicação Social não dispõe de notícias importantes, o impacto desta «brincadeira» não podia deixar de ser por ela aproveitado, por todos os meios ao seu alcance.
O facto foi sendo sucessivamente relatado nos telejornais, uma e outra vez, comentado e servido depois com a adição oportuna de várias entrevistas a personalidades bem conhecidas pelas suas inclinações políticas eventual ou potencialmente relacionadas, como por exemplo o «republicano» António Reis, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano e D. Duarte Nuno de Bragança, pretendente ao trono da monarquia portuguesa. Os faz de conta do costume.
Responsáveis da Autarquia, do Ministério Público e da Administração Interna, ainda cheios de sono, foram imediatamente acossados por jornalistas madrugadores e chatos, tentando saber o que iria ser feito aos responsáveis pelo acto de desrespeito ao símbolo da administração republicana na capital, os quais ainda por cima se atreviam a gozar com as autoridades, passando o filme na Net, em blog com acesso a meio mundo onde se prontificavam de imediato a devolver respeitosamente a bandeira da autarquia aos seus proprietários, caso fosse solicitada a troca. Era coisa que os assaltantes republicanos, quase há cem anos, não tinham feito…
Ora, como o 5 de Outubro e as comemorações do Centenário da Implantação da República estão próximos, muitos acham que as coisas não poderão ficar assim.
Mas vale a pena ler as declarações dos autores da proeza, (um grupo denominado «31 da Armada»), as dos principais entrevistados e também as de alguns comentaristas profissionais ou de simples anónimos. Quem não tiver propensão para o choro, vai apanhar uma diarreia de riso. Não sei qual das opções será a melhor.
Ocorre-me, neste momento, lembrar o acto brincalhão do actor de teatro António Feio, cantando a um grupo de crianças, na década de 70, em plena RTP, o hino nacional dos «irozes do mar, nozes podres», etc. Foi veementemente condenado pelos comentaristas políticos apoderados da imprensa da época, afastado do seu programa da TV, e levado a Tribunal…Os tempos eram outros e ridicularizar os símbolos da Pátria, qualquer que fosse o contexto em que isso se verificasse, era um sacrilégio punido por lei. Mas os tempos mudam, como já dizia Camões na era de quinhentos. Vários «brincalhões» foram queimados vivos por muito menos, até há perto de duzentos anos…
Mas agora, como interpretar o facto ocorrido, se não há referências à vista? Este é o magno problema da Comunicação Social, da Autarquia, dos Ministérios da Administração Interna e da Justiça, do Ministério Público, da PJ e dos Tribunais, etc., etc. Que fariam todos, se não fossem os casos como este, num país que há 99 anos era uma Monarquia sem monárquicos e hoje é uma República sem republicanos?
Chegado a esta brilhante conclusão, pergunto a mim próprio qual é o interesse, afinal, desta pepineira onde também eu já perdi uma hora?
Não sei.
O certo é que, se não fosse esta e outras pequenas misérias, seríamos um pais de tristes, ainda mais do que já somos…

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